Em Cabo Verde, atingimos o cúmulo da criancice político-institucional. Recentemente, assistimos à inauguração de um empreendimento público destinado, supostamente, a beneficiar as ilhas do Barlavento — sobretudo São Vicente — numa tentativa de criar novas oportunidades de receita para enfrentar os sérios desafios económicos que estas ilhas vivem. No entanto, o que deveria ser um momento de serviço e GESTÃO pública transformou-se num espetáculo de mais uma festa política.
Um grupo numeroso de políticos deslocou-se para esta inauguração, não para se conectarem com o povo ou para demonstrar empatia, mas para exibir importância. Hospedaram-se no hotel mais caro da ilha, acompanhados de séquitos desnecessários, como se estivessem a celebrar uma vitória pessoal. A impressão que ficou foi clara: o ego falou mais alto que o dever da GESTÃO SOCIAL.
Num país pobre — e é preciso repetir: pobre! — o verdadeiro papel do político deveria ser GERIR incondicionalmente em vez de ministrar! Os Ministros deviam ser chamados de Gestores da respetiva área. Parece o tempo do Partido Único ou das ditaduras sociais. Político e seus Seguidores todos ricos e vivendo bem e na boa, e o povo miserável.
Poderiam muito bem ter alugado uma boa casa, mesmo com algum conforto e espaço exagerado, onde poderiam poupar milhões de escudos, e até convidar familiares e amigos para a ocasião. Isso, sim, mostraria consciência política no sentido moderno ECOSOCIAL. Mais ainda, poderiam contratar uma cozinheira local, talvez uma mãe em dificuldades a tentar pagar os estudos dos filhos. Isso seria um gesto simbólico e real de ajuda à economia local.
Esses milhões de escudos que poupariam ao virem para o Mindelo festejar uma inauguração de festas criadas por eles mesmos podiam, ao poupar e terem ficado numa Casa Especial ou até no Palácio na Rua de Lisboa, criar um empreendimento e, com esse troco, pagar muitos jovens, formados ou não, que estão desempregados ou que têm filhos porque não foram educados pela elite política com grandes campanhas que não precisem fazer filhos menores de idade, para irem, por exemplo, limpar as praias mais poluídas de Cabo Verde — nem que fossem pagos 500$00 por dia e refeição gratuita durante as tarefas ecológicas, de que tanto dependemos do nosso mar!
Mas não. Preferem o luxo, a ostentação, o aplauso fácil. É essa cultura política que persiste: a de que ser político é ser importante, quando na verdade, em países como o nosso, ser político deveria ser sinónimo de responsabilidade, sacrifício e serviço ao próximo.
Estas atitudes lembram muito certos contextos africanos: políticos milionários comendo lagostas em hotéis de cinco estrelas, enquanto o povo passa fome. E quando falamos de fome, não nos referimos apenas à ausência de comida. Há vários tipos de fome: fome de oportunidades, viver em paz, sem brigas no parlamento, discutir ideias de educação, de justiça, de dignidade.
Um problema que existe em um país, quer seja social, humanística, ambiental ou técnica, tem sempre solução após ser analisado por especialistas da respetiva área da qual o problema persiste. Nenhum partido tem melhor solução!!! É absurdo!!! À medida que as pessoas vão tendo acesso gratuito à educação e à informação online, por exemplo, lendo jornais neutros e mais racionais, muita gente começa a não acreditar nestes tipos de políticas arcaicas dos tempos em que os ministros eram chamados Reis e Rainhas e viviam em palácios com o povo a passar vários tipos de fome.
Tornou-se habitual ver comitivas de 200 pessoas comemorando cada passo de um partido no poder — seja qual for o partido — enquanto a fome cresce nas ilhas. Isso é obsoleto, ademais para países tão pobres e sem rendimento interno em termos de produção e criação em massa, já que os nacionais, apesar de centenas de anos estudando, ainda não conseguem nem criar uma frota de barcos para o nosso hiper rico MAR!!
São tantas palestras, tantas teorias, tantas fotos bonitas… mas, na prática, ver algo de impacto real é praticamente impossível.
Políticos que, tal como certas crianças mimadas, querem “parecer” poderosos mas não querem fazer os “trabalhos de casa”. E quando perdem eleições, culpam tudo e todos, menos a sua própria falta de trabalho e compromisso com o povo.
Tenham vergonha!
Este texto não é um ataque pessoal. É um desabafo social baseado em realidades visíveis, sustentado por dados, estudos internacionais, estatísticas e pela simples observação da vida comum nas ilhas. A política não é só sobre orçamento, inaugurações e discursos. A política é — ou deveria ser — sobre o povo.
E o povo está com fome.
Enquanto em Cabo Verde nossos problemas não sejam tão graves tal como em outros países de homens “loucos”, muita coisa já não faz sentido, onde menciono este exemplo no texto de tamanha disparate dos políticos africanos!